Cavalo sem nome
Cavalo sem nome: projeto de filmes de curta duração iniciado em 2018, com previsão de encerramento quando o HD das imagens for esgotado por completo
Recebi, em 2014, um convite para acompanhar e filmar uma das maiores cavalgadas do Brasil, que saía de Goiânia em direção ao município de Aruanã, na região noroeste de Goiás. A cavalgada percorria mais de 300 quilômetros ao longo de dez dias, quase integralmente por estradas de terra, atravessando um Goiás menos conhecido, profundamente rural e tradicional. Iniciamos o trajeto na segunda semana de julho, passando por Goianira, Avelinópolis, Americano do Brasil, Goiás, Buenolândia e, por fim, Aruanã, cidade banhada pelo rio Araguaia.
Anos depois, ao revisitar as mais de vinte horas de material produzido, identifiquei recorrências na filmagem: escolhas de enquadramento das paisagens, o entra e sai incessante de cavalos e cavaleiros, os campos de soja que avançam sobre o Cerrado e a atenção aos detalhes da arquitetura de casebres e pontes empoeiradas. Esse conjunto compõe o trabalho Cavalo sem nome, projeto que se recompõe a cada exibição.
Cada convite para participação em mostra ou exposição inaugura um novo corte, como se fosse um trabalho por encomenda. Discuto com os curadores a narrativa que desejo construir. Avalio as imagens que restam, a presença ou não de som, a existência de diálogos e a própria duração do filme. A versão criada passa a existir somente ao longo da exposição. Ao término do período expositivo, os arquivos mobilizados e a versão apresentada são deletados de forma irrecuperável do único HD onde residem.
A montagem propõe o aniquilamento contínuo do arquivo, mantendo-o em estado de reinício, como um filme sem fim que desestabiliza os artifícios narrativos tradicionalmente associados aos road movies.
Filmes já realizados e destruídos:
Filme 1: Cisco no olho
Filme 2: Um largo empoeirado
Filme 3: Na mansidão do tempo
Filme 4: Uma festa para Antônio
Filme 5: Brokeback Mountain em baixíssimo orçamento
Filme 6: Vai amanhecer e dessa vez eu quero acordar sozinho
O trabalho conta com a colaboração de Emerson Maia, Larissa Fernandes, Thiago Ramos, Rico Villares, Lidianne Porto, Gabriel Raposo, Silvio Calazans, Leandro Rodrigues, Thomaz Magalhães, Ludielma Laurentino e Fernão Carvalho.
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Cavalo sem nome [Nameless Horse]: short films, project initiated in 2018, with completion planned once the image hard drive has been fully exhausted
In 2014, I was invited to accompany and film one of the largest horseback drives in Brazil, which set out from Goiânia toward the municipality of Aruanã, in the northwestern region of Goiás. The journey covered more than 300 kilometers over ten days, almost entirely along dirt roads, crossing a less visible Goiás, deeply rural and traditional. We began in the second week of July, passing through Goianira, Avelinópolis, Americano do Brasil, Goiás, Buenolândia, and finally Aruanã, a city on the banks of the Araguaia River.
Years later, when revisiting more than twenty hours of footage, I identified recurring procedures: similar approaches to framing landscapes, the constant movement of horses and riders, the soybean fields encroaching upon the Cerrado, and the details of weathered houses and dusty bridges. This material forms the work cavalo sem nome (horse without a name), a project that is re-edited each time it is exhibited.
Each invitation to participate in a screening or exhibition inaugurates a new cut, as if it were a commissioned work. I discuss with the curators the narrative I intend to construct. I consider the images that remain, the presence or absence of sound, the existence of dialogue, and the very duration of the film. The version created exists only for the duration of the exhibition. At the end of the exhibition period, the files used and the version presented are irreversibly deleted from the single hard drive where they reside.
The editing proposes the continuous annihilation of the archive, keeping it in a state of perpetual restart, like an endless film that destabilizes the narrative artifices traditionally associated with road movies.
Films already made and destroyed:
Film 1: Cisco no olho [Speck in the eye]
Film 2: Um largo empoeirado [A dusty square]
Film 3: Na mansidão do tempo [In the stillness of time]
Film 4: Uma festa para Antônio [A Party for Antônio]
Film 5: Brokeback Mountain em baixíssimo orçamento [Brokeback Mountain on an extremely low budget]
Film 6: Vai amanhecer e dessa vez eu quero acordar sozinho [Dawn will come and this time I want to wake up alone]