Arquivo Morto: série (cerca de 300 papéis de carta), 2013-2025
Colecionar papéis de carta foi um passatempo cultivado por muitas crianças entre as décadas de 1980 e 1990. Havia extremo cuidado em guardá-los em pastas-catálogo: escolher envelopes coloridos, conferir a resistência dos saquinhos plásticos, organizar sessões de troca. Escrever nos papéis de carta quase nunca era uma opção. Evitava-se qualquer marca de uso: sem dobras, sem sujeira, sem vestígios. Quanto mais intactos, maior o valor atribuído a eles.
Se a carta pressupõe um destinatário ausente, a quem esses papéis poderiam se dirigir? Somente aos exemplares repetidos de uma coleção? Arquivo Morto parte desse impasse. Os papéis desejam sair da condição de reserva e passam por um processo de “desarquivamento”: neles surgem rabiscos, adesivos e pequenos desenhos que inventam uma interlocução possível no presente.
Fotos: Fábio Lima, Pedro Agilson (Cortesia A Gentil Carioca) e Benedito Ferreira.
–
Arquivo Morto [Dead File]: series (approximately 300 letter papers), 2013–2025
Collecting letter paper was a common pastime among many children during the 1980s and 1990s. Great care was taken in storing them in catalogue binders: choosing colored envelopes, checking the durability of the plastic sleeves, organizing trading sessions. Writing on the letter paper was almost never an option. Any sign of use was avoided: no folds, no dirt, no marks. The more intact they remained, the greater their perceived value.
If a letter implies an absent recipient, to whom could these sheets be addressed? Only to the duplicates within a collection? Arquivo Morto begins from this impasse. The papers seek to leave their state of reserve and undergo a process of “unarchiving”: scribbles, stickers and small drawings appear on their surfaces, inventing a possible interlocution in the present.